top of page

Fechado Dyle EFA

A Estrada de Ferro Araraquara (EFA) desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do interior paulista, sendo, até hoje, uma das formadoras da Fepasa com o maior número de entusiastas no estado de São Paulo. Seja por sua estética marcante ou por ligações históricas com a companhia, a Marumbi Modelismo também nutre grande simpatia pela EFA.

 

Além do modelo "Tanque TCR EFA", que representa um vagão da era de Bitola Larga, temos o prazer de anunciar uma nova adição ao nosso catálogo: um vagão da era métrica da Araraquarense.

 

Apresentamos o Fechado Dyle EFA, com capacidade para transportar até 36 toneladas.

Após um conturbado período de administrações desastrosas ou pouco virtuosas, a Estrada de Ferro Araraquara (EFA) foi encampada pelo estado de São Paulo em 1919. A partir desse momento, teve início um duradouro processo de expansão e reaparelhamento da ferrovia. Com a chegada dos trilhos a São José do Rio Preto, a EFA consolidou-se como uma ferrovia de penetração, impulsionando a colonização e o desenvolvimento da região que, graças à sua atuação, passou a ser conhecida como Alta Araraquarense.

Para atender à crescente demanda, a companhia possuía uma frota de vagões de madeira. Já na década de 1930, em busca de maior segurança no transporte de líquidos inflamáveis, a EFA encomendou seu primeiro vagão fechado metálico. Esse modelo foi projetado para reduzir os riscos no transporte de gasolina, essencial para a incipiente frota de automóveis e tratores, além de querosene, utilizado em lamparinas, lampiões ou candeeiros, para clarear as noites. Também era transportada uma pequena fração de óleo, destinado a motores estacionários de engenhos.

Naquela época, esse tipo de combustível era transportado em vagões fechados, pois sua venda era fracionada e feita em latas. O produto podia ser adquirido em bodegas rurais ou pequenos mercados urbanos, sendo comercializado em diferentes volumes: latas de cinco ou dez litros, latões de 18 litros e, em menor escala, embalagens de apenas um litro. Muitas vezes importado, esse combustível era fracionado e envasado em São Paulo ou Santos, de onde seguia para distribuição e venda no varejo.

 

É dispensável dizer que o transporte desse combustível em vagões de madeira, tracionados por locomotivas a vapor que soltavam fagulhas, representava um grande risco. Diante dessa preocupação, as ferrovias passaram a encomendar vagões de aço, equipados com respiros nas cabeceiras, para eliminação de eventuais vapores, permitindo o transporte dessas latas de combustível importado de forma mais segura. Essa solução minimizava os riscos tanto para a tripulação quanto para os ativos da companhia e a carga transportada. Além de inflamáveis e no sentido oposto, o vagão era um fechado convencional, transportando qualquer sorte de carga seca ou ensacada.

Acima vemos o recém adquirido Fechado Dyle EFA na Fazenda Buarque, ainda em 1938.

A Estrada de Ferro Araraquara (EFA) encomendou esses vagões à companhia franco-belga Société Anonyme des Travaux Dyle et Bacalan, que os produziu em sua sede em Louvain, Bélgica, em 1937.

A Société Anonyme des Travaux Dyle et Bacalan, comumente conhecida como Dyle et Bacalan, foi uma renomada fabricante belga de material ferroviário e estruturas metálicas, estabelecida em 1879 a partir da fusão dos Ateliers de la Dyle, de Louvain, Bélgica, e dos Chantiers de Bacalan, de Bordeaux, França.

Projeto Mecânico feito pelo Departamento de Locomoção da Estrada de Ferro Araraquara

Inicialmente, os vagões eram dotados de truques de barra, freio a vácuo e correntões de engate. Com o passar dos anos, passaram por modernizações, recebendo truques fundidos e freio a ar comprimido. No entanto, a maioria deles acabou sendo equipada com engates automáticos pequenos, do tipo "Alliance 2", até o final de sua vida útil.

Carregamento da Mikado 314 da EFA no vagão carretão, durante seu alargamento, aonde pode-se ver um Fechado Dyle EFA no fundo à esquerda já completamente integrado ao trafego da ferrovia. Foto de Sebastião Ramos.

Na Estrada de Ferro Araraquara, os vagões receberam sua característica pintura cinza, além do logotipo da companhia e da série (S-IC), que foram aplicados em fundidos sobre a chaparia do vagão. A Marumbi Modelismo, sempre atenta aos detalhes, não poderia deixar de reproduzir fielmente essas características. Por isso, oferece algo sem paralelo no mercado: photoetchs com sete numerações do vagão, além do logotipo da Araraquarense, disponível nesta opção de pintura.

Basta selecionar a EFA em sua compra, e nós adicionaremos um photoetch, além dos decais de tara e lotação ao seu kit. Assim, você poderá representar fielmente não apenas as inscrições, mas também a volumetria do vagão.

Ligando Araraquara à cidade de Rubinéia, nas barrancas do rio Paraná, e funcionando como um escoadouro para a imensa produção agrícola das regiões de Catanduva, São José do Rio Preto, Votuporanga e Fernandópolis, a Estrada de Ferro Araraquarense (EFA) começava a demonstrar as limitações causadas pela quebra de bitola com a Companhia Paulista.

Por ser uma linha isolada das demais ferrovias de bitola métrica do estado, ficou claro que o baldeio manual, vagão a vagão, apresentava um grande inconveniente para a conexão da região com a capital paulista e Santos.Com isso, ainda nos anos 1950, a EFA iniciou o processo de alargamento de sua bitola. Nesse mesmo programa, a companhia incorporou por aquisição ou aluguel dezenas de locomotivas e vagões de bitola larga usados provenientes de outras ferrovias brasileiras, enquanto prosseguia com o alargamento de seus trilhos, movendo o baldeio para frente, estação por estação. Em suas oficinas, a EFA continuou a converter material de bitola métrica para larga, além de transferir e vender parte de seu material antigo, enquanto aguardava uma vultuosa encomenda de vagões, carros e das famosas GPs da EMD.

 

É neste momento que a história de um vagão, que inicialmente pertencia apenas à EFA, começa a se diversificar, tornando-se múltipla e representando uma parte significativa do sistema ferroviário nacional. Vamos começar pela variante mais óbvia: os vagões que foram convertidos para bitola larga.

 

Infelizmente, não dispomos de fotos desses vagões, mas é possível afirmar que ao menos sete dos vagões fechados originais foram rebitolados, recebendo truques de bitola larga, conforme é indicado nesta ficha dos anos iniciais da Fepasa, que foi feita rasurando-se uma ficha da antiga EFA. A ficha fala sobre rebitolagem em1963, o que nos leva a crer que foram alguns dos últimos vagões de bitola métrica a circular pelas linhas da EFA.

 

A Marumbi Modelismo disponibiliza decais Fepasa fase 1 “fepasinha” com números desta fase, bem como os vagões acompanham apenas truques de bitola “larga” (standard 16,5mm) para esta variação.

Bom, uma vez que apenas sete vagões foram convertidos para bitola larga, é hora de descrever o desenrolar da história dos demais. Vamos começar pelos vagões que a EFA vendeu à Estrada de Ferro Leopoldina, por volta de 1961.

 

Caso queira saber mais sobre a história da Leopoldina e o momento que ela vivia nos anos 1960, você pode conferir o artigo sobre o Vagão La Brugeoise da Marumbi Modelismo. (https://www.marumbimodelismo.com/masterclass/fechado-labrugeoise-efl).

A Leopoldina recebeu ao todo 18 vagões tipo “Fechado Dyle EFA” numa compra de centenas de vagões, entre aço e madeira que a RFFSA fez junto àquela companhia. Tais vagões que rumaram a norte, pelas linhas da Mogiana e VFCO até atingir a EFL operaram tanto em suas linhas, como por empréstimo ao sul, na 11ª divisão, Paraná-Santa Catarina.

Planta dos ‘Fechado Dyle EFA’ pertencentes à EF Leopoldina. A direita temos a listagem dos vagões cedidos por empréstimo a Paraná Santa Catarina.

Nesta foto de 1968 em Paranaguá/PR vemos um ‘Fechado Dyle EFA’ em primeiro plano, já como EF Leopoldina, emprestado a PSC. José Petroski, Acervo APFMF Curitiba.

O empréstimo dos vagões durou de 1963 até 1969, quando a PSC recebeu vagões tipo fechado graneleiro da FNV. Alguns dos Dyle passaram por modernizações, como a instalação de truques de rolamento e a substituição das antigas portas de abrir por portas de correr. Ao retornarem à Leopoldina, os vagões continuaram prestando serviços à ferrovia, inicialmente de forma remunerada, e posteriormente, os sobreviventes passaram a ser utilizados no serviço interno da ferrovia. Atualmente, um dos exemplares que passaram pela Leopoldina está sob guarda e aguarda restauro nas instalações da ABPF em Porto Novo.

Agora vamos voltar à Fepasa, falando novamente de bitola métrica, representada pelos que foram transferidos à Sorocabana, a maior companhia de bitola métrica de São Paulo e neste momento, também pertencente ao estado. A Sorocabana recebeu grande quantidade de vagões métricos declarados não obsoletos quando do alargamento da EFA. Dentre eles podemos elencar alguns ‘Fechados Dyle EFA’, conforme fotos.

Um ‘Fechado Dyle EFA’ como primeiro vagão desta composição tracionada por uma GL8 da Mogiana.

Não conseguimos determinar exatamente quantos vagões foram transferidos para a Estrada de Ferro Sorocabana (EFS), nem em que data sua numeração original (série S-IC) foi alterada para a numeração vigente na EFS (série VG). No entanto, temos certeza de que as numerações disponibilizadas nos decais da fase EFS realmente existiram.

Sabe-se ainda que pelo menos uma unidade (VGE-3703) foi convertida para o transporte de adubo, recebendo tampinhas no teto para carregamento.

Dado ser um vagão sui generis, não iremos produzi-lo em miniatura. Porém, caso você deseje modelar algo único, fica a sugestão: partindo de um Fechado Dyle EFA da Marumbi Modelismo, basta adicionar as tampinhas ao teto, que podem ser recortadas de um teto de Fechado Graneleiro EFS (Ref. Frateschi 2002 ou 2008).

Há também a informação de que alguns desses vagões da EFA foram transferidos para a São Paulo – Minas, uma das formadoras mais obscuras da Fepasa, ao menos em nossa opinião. No entanto, não conseguimos confirmar essa informação com quaisquer documentação ou imagem.​

 

Caso você possua mais informações sobre esses vagões e queira compartilhá-las conosco, por favor, entre em contato.​

 

Naturalmente, todos os vagões da EFA, da EFS e os que eventualmente foram transferidos para a São Paulo – Minas (SPM) acabaram sendo novamente reunidos em 1971 sob uma mesma companhia, a Fepasa.

 

​Na Fepasa, os vagões de bitola métrica foram numerados nas séries 110XXX a 115XXX e 216XXX (números salteados conforme o uso, truques e tipo de serviço), enquanto os poucos vagões de bitola larga receberam a numeração na série 6140XX (de forma sequencial).

A Fepasa passou por uma mudança em sua identidade visual na segunda metade dos anos 1970, o que também se refletiu na pintura dos ‘Fechados Dyle EFA’ em sua frota. A adoção do #FEPASA trouxe consigo novos ares, e a numeração Sumo (equivalente da Fepasa para o SIGO/norma ABNT) também foi implementada no início dos anos 1980, resultando em uma nova tipologia para os vagões fechados.

Fechado Dyle EFA, agora como #FEPASA (fase 2). Foto de Mauricio Lima (observar que estava a serviço da TWC).

“Pingentes” em um Fechado Dyle EFA a serviço da Votorantim, nas proximidades de Sorocaba. Acervo do MPF Sorocabana, via Eric Mantuan.

Finalmente, alguns destes vagões, já obsoletos ao transporte de carga são ressignificados para o serviço interno da ferrovia, passando de FSC para FNC, aonde o N representa “Não Remunerado”. Vagões designados ao serviço de socorro, rede aérea podem ser observados nas fotos abaixo.

Estes vagões inicialmente não terão decalques disponíveis, e sua confecção ocorrerá apenas caso haja um número suficiente de interessados para viabilizar a produção de uma folha de decalques. Caso deseje encomendar um desses vagões, tenha em mente que o decalque pode demorar ou, em alguns casos, nem ser produzido, dependendo da demanda no mercado.

Vagão de Socorro, foto de Davi Boçon (in Memoriam). Sua numeração se encontra parcialmente legível, como FNC 34323X, ainda nas cores da Fepasa.

Trem de Via Permanente, foto Stenio Gimenez, dentre os fechados, vemos um ‘Fechado Dyle EFA’, o FNC 343480-0.

Outro fechado, desta vez o FNC 343490-7 a serviço da eletrotécnica, conforme no inscrito em sua porta “MANUTENÇÃO DE REDE AÉREA PRESIDENTE ALTINO”. Autor desconhecido, caso seja você, contate-nos.

Finalmente, com a privatização em 1997, os vagões remanescentes foram transferidos para a Ferroban e, com sua cisão em 1999, foram recebidos pela FCA e ALL. Em 2006, o restante da Ferroban foi incorporado pela ALL, que também assumiu os vagões não operacionais.

Dentre esses vagões, um se destaca como o mais fotografado e medido pela Marumbi Modelismo: o FNC 343350-4, que se encontra em Mauá da Serra, na Central do Paraná, a pouco mais de 4 horas e meia de automóvel partindo de Curitiba. Este ‘Fechado Dyle EFA’ continua resistindo firme, aos quase 80 anos, cumprindo uma função curiosamente próxima à sua função original: hoje, ele serve como vagão de apoio, armazenando combustível e lubrificantes para a mecanizada da via permanente.

Fechado Dyle EFA em Mauá da Serra/PR, em 2024, foto João Licorini.

Avante EFA.

bottom of page